História de São Gião

São Gião, freguesia ancestral das Beiras, situada nas faldas da Serra da Estrela, onde a montanha se espreguiça e aconchega, entrelaçada pelo Rio Alva, é uma pitoresca aldeia miradouro para as extensas maravilhas bucólicas que a circundam. À beira-serra plantada, com uma altitude de 817 metros, e dona de um distinto traço arquitectónico medieval com base no granito, São Gião faz parte da Rede de Aldeias de Montanha (ADIRAM).

Com uma antiguidade que remonta à época romana, onde terá sido um importante entreposto comercial, a freguesia de São Gião foi também atravessada pelas civilizações visigótica e árabe, cujas marcas ainda hoje ecoam nas levadas de regadio que percorrem os vales e serranias de São Gião e nos seus pitorescos moínhos de água. Este património identitário de São Gião, com uma intemporal tradição de lavoura, estende-se ainda aos seculares fontanários e lavadouros que se espalham pela aldeia, onze no seu total.

Com uma antiguidade que remonta à época romana, onde terá sido um importante entreposto comercial, a freguesia de São Gião foi também atravessada pelas civilizações visigótica e árabe, cujas marcas ainda hoje ecoam nas levadas de regadio que percorrem os vales e serranias de São Gião e nos seus pitorescos moínhos de água.

Com uma indelével marca da religiosidade cristã, a própria toponímia da freguesia advém de uma derivação do seu orago, São Julião, sendo que as designações alusivas a devoções locais correspondem aos mais ancestrais cultos cristãos hispânicos. O primeiro registo paroquial de São Gião data de 1562, mais antigo que o próprio registo da vila de Penalva de Alva — de cujo concelho São Gião fez parte até 1836 — atestado pela vetusta Capela de São Sebastião, construída no século XVI, das mais antigas do concelho de Oliveira do Hospital, sendo uma das oito capelas da freguesia.

Porventura pela importância eclesiástica de São Gião, o foral de D. Manuel I de 12 de Setembro de 1514, atribuído à antiga vila de Penalva de Alva, tenha a designação de Forall pera o Concelho e Terra de Penalva de Sam Giaão. A centralidade do culto religioso em São Gião consubstancia-se na histórica sumptuosidade da sua Igreja Matriz: a construção última do templo iniciou-se em 1756, tendo sido concluída em 1795 e justamente denominada Catedral das Beiras pela sua majestosidade e imponência distintas, contando com 102 painéis artísticos, sendo considerada Monumento de Interesse Nacional. Interessa ainda destacar a Romaria do Senhor dos Aflitos, de onde sobressai a magnífica procissão das velas, com séculos de história, constituindo uma das ancestrais festas populares da região.

Com a introdução da fidalguia na freguesia em 1686, São Gião passou a integrar não só a geografia montanhosa da Beira mas também os itinerários da cultura e do espírito. No início do século XIX, São Gião fazia parte do extinto concelho de Sandomil, tendo sido posteriormente integrada no concelho de Seia após a reorganização administrativa de 1836. No entanto, por vontade expressa das suas gentes e através de um processo de mobilização popular invulgar para a época, São Gião viria a ser definitivamente transferida para o concelho de Oliveira do Hospital em 1898, onde permanece até aos dias de hoje.

Desta vitalidade cívica e cultural emergiu, em 1852, a Banda Filarmónica Sangianense, uma das mais antigas do país ainda em actividade. Esta banda, verdadeiro esteio da vida comunitária, tem atravessado gerações como escola de música, memória viva da tradição e presença constante nas festas religiosas, nas cerimónias solenes e nas celebrações populares. Os seus acordes ecoam como testemunho sonoro da identidade de São Gião, levando consigo a alma da aldeia pelas terras das Beiras fora.

A centralidade do culto religioso em São Gião consubstancia-se na histórica sumptuosidade da sua Igreja Matriz: a construção última do templo iniciou-se em 1756, tendo sido concluída em 1795 e justamente denominada Catedral das Beiras pela sua majestosidade e imponência distintas, contando com 102 painéis artísticos, sendo considerada Monumento de Interesse Nacional.

A história recente da freguesia não se pode escrever sem evocar algumas das suas figuras maiores, como António Canastrinha, homem de verbo aceso e vincado sentido de pertença, que se destacou no tecido associativo e na preservação das tradições populares, ou Manuel Eugénio Madeira, homem de letras reconhecido pela Ibéria e erudito local, precursor da famigerada geração da corrente literária do Saudosismo. Nomes como estes, tal como tantos outros anónimos que edificaram São Gião com mãos calejadas e coração inteiro, perpetuam o pulsar de uma terra que é, simultaneamente, altar e abrigo, raiz e horizonte.